O que é?
O responsável de um Dojo deve ser um homem do ‘caminho’ (Do). Ele deve estar em total harmonia com a missão que sua escolha lhe confiou. Dessa forma, ele contribui para a transmissão da mensagem espiritual de amor e de conhecimento que o Budo representa. Sua mensagem não tem fronteiras; o amor que engendra a não-violência não tem limites nem horizontes, vai para além das palavras e das diferenças culturais. Porque o Do faz desaparecer todas as separações.
O Dojo é sobretudo uma filiação espiritual que deve permitir aos praticantes permanecer para uma dimensão interior que cada um traz em si mesmo. É uma ponte entre o Oriente e o Ocidente e é isto que faz sua universalidade.
A via é um oceano infinito onde cada um, a seu nível e em função da sua procura e da sua capacidade de receber, pode beber dessa fonte inesgotável.
O verdadeiro combate que travamos aqui, e esquecemos frequentemente, é o combate contra si mesmo. O nosso ego, essa entidade psíquica, é o primeiro inimigo a ser vencido; ele é o freio principal que nos impede de realizar o conhecimento de nós mesmos. Vivemos, por vezes, separados do mundo: é o sentimento do ‘eu’ no sentido mais restrito do tempo que ocupa todo o nosso campo da consciência e achamos que essa é a nossa verdadeira identidade.
A prática deve ensinar-nos a ultrapassar a técnica e dar-lhe um valor relativo. Ela deve ser orientada em direção ao conhecimento de nós próprios, a fim de nos reajustarmos e dirigirmo-nos, mais firmemente, ao nosso ser interior. Aprender a vencer os medos que nos mantêm no mundo das ilusões, para encontrar um verdadeiro sentimento de confiança e de abandono.
Um mestre contou a seguinte história:
“Havia um cão que tentava beber num lago. Ao aproximar-se da água ele via o seu reflexo e esta visão fazia-o fugir. Mas ele voltava e, de cada vez que estava quase a beber, via um cão que lhe saltava para cima e fugia de novo. Mas a sua sede era tão grande que acabou por se atirar à água. E bebeu a água, descobrindo que este medo terrível não era mais do que o fantasma do seu próprio ego, apenas uma imagem dele mesmo.”
Está barreira que nos separa de nós próprios é o obstáculo que devemos superar. Esse obstáculo, ainda que ilusório, é eficaz e perigoso porque nos impede de beber a água da nossa própria fonte interior.
Budo é, antes de tudo, a realidade que nos coloca na Energia da confiança. O caminho do rigor e da beleza; a Via conduz-nos à Realização.
Portanto, o Dojo é o Alto lugar da transformação de si próprio. Não é um lugar onde se prega uma doutrina; é um lugar onde existe um estado de Ser.
“O canto da floresta depende da alma do vento.”
A Escolha do Nome
Simbolicamente, o termo japonês Munen Mushin possui um significado extremamente importante para o mundo moderno, um dos valores que infelizmente está desaparecendo a cada dia dentro de nossa sociedade.
MU: Vazio
SHIN: Espírito
Mushin, representa um dos princípios do guerreiro samurai no Budo retratando um estado de espírito sem medo, distrações, raiva ou ansiedade.
Desta forma, desenvolvemos a capacidade de acalmar a mente, perceber o que ocorre em volta e nos organizarmos para tomar decisões e agir corretamente.
NEN: Pensamento
Munen é um estado mental em que não nos deixamos conduzir influenciado por desejos. Um estado de espírito que passa por transformações constantes de aprendizado.
Finalmente, o ideograma Munen Mushin pode ser traduzido como uma mente vazia, não no sentido da ausência de conteúdo, mas neutra, sem ego e não julgadora, aberta a novos aprendizados.
De novo o Dojo!
São os alunos, e entre estes os "cintos negros", que fazem "o lugar onde se pratica a Via. Eles são os verdadeiros embaixadores da sua arte e do lugar onde praticam a sua disciplina. O professor, o sensei ou o mestre, não são mais do que "o Guardião do Lugar"
A minha conceção de um Dojo foi sempre a mesma desde a infância, embora já não tenha, hoje, o espírito de um principiante, infelizmente... Sem falar de filosofia nem de espiritualidade. O Dojo deve ser, à partida, um lugar onde o verdadeiro espírito seja, antes de tudo mais, uma procura do conhecimento de si mesmo. Considerando a grande interrogação "O que sou eu?", trata-se sobretudo de aceitar o que somos no "aqui e agora", para poder
ir mais além e aí encontrar uma resposta no caminho da nossa prática. É também o reconhecimento do outro, dos outros... e das necessidades de cada um. É preciso saber, igualmente, que existe no Homem uma vocação inata, por vezes escondida: "ajudar o próximo".
A nossa prática deve conduzir-nos, seja a guardar seja a fazer nascer o ideal que garanta o desabrochar "de si" e dos que nos rodeiam. Um Dojo deve ensinar a dissolver os conflitos da mesma forma que as nossas técnicas transformam os ataques em não-funcionais. É necessário, no Dojo, equilibrar as relações e dar às pessoas a dignidade e o bem-estar que permitam um bom funcionamento do lugar.
Os mais antigos devem ser mediadores, a fim de guiar os mais novos e os ajudar a tomar consciência de um trabalho de entreajuda no Dojo e mesmo à sua volta. Frequentemente, os principiantes são motivados por um ideal e, infelizmente, são eles também os mais expostos a um sentimento de impotência face aos mais avançados. A deceção arrasta consigo uma perca de motivação para continuar que leva a que, desiludidos, abandonem o Dojo. Perdemos, nestes casos, alguns bons futuros praticantes, tão necessários nesse mesmo Dojo. Todavia, eles são as sementes do futuro...
Estes principiantes (kyu) têm necessidade de uma metodologia que não se limite, somente, ao gokyo (programa técnico). Alguns professores não passam destes programas técnicos o que é pena, pois isso poderá transformar-se num "parque de estacionamento". É por isso que digo frequentemente, no Dojo TenChi, para cada um aprofundar a sua reflexão e propor soluções precisas e concertadas para a melhoria do bem-estar de todos.
Para compreender o que se passa no tatami (tapete) ou no Dojo, uma breve análise do nosso ambiente se impõe. Frequentemente, diz-se "o tapete é o mundo" e é bem verdade!
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