“Em Georges Stobbaerts encontrei, mal o conheci, esse espírito de não proveito. É por isso que não parou de evoluir, apesar das dificuldades de sua vida.
Este livro assim como sua estadia em Portugal é uma etapa importante na progressão do seu ensinamento. Gostaria que pudessem lê-lo para lá da escrita. Cada leitor, do neófito ao já iniciado (antigo praticante) poderá nele encontrar aquilo de que precisa no momento exacto. Mas gostava de retirar dele três características que poderão guiar-vos no vosso estudo.
A primeira, de base, é a competência e o sentido pedagógico com os quais o Aikido é apresentado. O autor conhece profundamente as técnicas, o que é o mínimo, mas muito para além disso vive o Aikido com todo o seu sopro, todas as fibras do seu ser, corpo e espírito totalmente unidos.
A segunda característica, corolário da primeira é o amor. Amor pelo Aikido, mas também pelos alunos e discípulos e através deles, da natureza e do cosmos inteiro. Este já é mais difícil de conhecer e compreender pois trata-se de um amor que não é condescendente, antes pelo contrário; rói, por vezes irrita e pode ser a fonte de conflitos passageiros. Mas é construtivo, activo, vivo. Através da arte, através da pessoa humana atinge a vida cósmica. Verdadeira pedra filosofal, transmuta com sua alquimia secreta, ao mesmo tempo o aluno em discípulo e o professor em Mestre. Ainda que se dirija a todos sem distinções, nem a todos é dado conhecê-lo profundamente. É preciso que da parte do aluno haja esforço, paciência, uma prática infatigável, uma humildade suficiente e à medida dos esforços, da paciência, da prática e da humildade do Mestre.
A terceira característica deste livro é que o ensinamento que nele encontramos não tem nada a ver com uma aula da universidade ou da escola técnica. Se o consideram como tal não verão nele mais que um lado superficial incompleto e insuficiente.
O Mestre não ensina: antes quer que refaçam sua própria experiência. Faz-vos primeiro mergulhar até ao tutano dos seus ossos, até o mais profundo de si próprio. Convida-vos em seguida com suavidade, mas não sem firmeza, com vigilância, mas apagando-se a si próprio, a ultrapassarem-se constantemente através da vossa acção pessoal. Faz-vos, sem que se apercebam, descobrir por vós próprios a verdadeira natureza das coisas. É por isso que, durante o caminho a percorrer, muitos alunos, mal atingiram um certo resultado técnico, têm tendência a pensar que sabem tudo e que descobriram tudo sozinhos. Então, para que serve o Mestre, perguntam eles? Persuadidos de que não aprenderam nada com ele, segundo um processo psicológico bem conhecido, abandonam-no, fechando-se num desejo ilusório de independência e chegam mesmo a combatê-lo. Todos os Mestres passaram por este gênero de provas que são, mesmo para os maiores de entre eles, um profundo sofrimento. Sofrimento não de uma esperança ou de um afecto frustrado, mas de pena de ver permanecer estéril um grão que poderia germinar, de ver desperdiçar energias que só precisavam de se desenvolver, de ver triunfar momentaneamente um <<ego>> que deveria ter-se vencido a si próprio, de ver atrasar o momento de um acordar verdadeiro para a vida cósmica. Apesar da dor interior o Mestre permanece atento e benevolente, mesmo se tem por vezes de fingir-se irritado e espera pacientemente que o momento em que o aluno possa enfim tornar-se discípulo, se apresente de novo.
Onde há um discípulo há um mestre.”
Dr. Claude Durix.