O Jardim TenChi
O jardim de TenChi foi inspirado para, através das nossas práticas, reencontrarmos as raízes e elevarmo-nos para o céu. O betão invade-nos e deixa pouco espaço à natureza... Este jardim é ao mesmo tempo simbólico e espiritual... Não é o seu tamanho que conta.
Trabalhar no jardim é estarmos no mundo, é integrarmo-nos no Universo. Meter as mãos na terra é criar uma outra relação com a natureza, com a vida e, portanto, consigo próprio. É um laço bebido numa fonte comum, «a terra». Voltaire dizia «é preciso cultivar o seu jardim». Hoje mais do que nunca! Um jardim como o de TenChi é uma barreira contra a poluição e o stress pelas suas virtudes: as da Natureza, mas também a da sua dimensão contemplativa e de último recurso. O jardim possui esta qualidade de acalmar em profundidade as pessoas que estão saturadas do urbano. Podemos recentrar-nos, o jardim pode recolocar-nos no eixo. Ele torna-se como que uma coluna vertebral simbólica num modo de vida agitado. Esta ligação à Natureza está certamente inscrita na nossa memória celular. O perigo da cidade é afastar-nos dela. Compreender o jardim é viver a plenitude da vida, é ligar-nos de novo à terra, aos ritmos sazonais, aos ritmos cósmicos.
Desde os primeiros jardins, aparecidos na Mesopotâmia em 3000 AC e dedicados aos Deuses, até aos simples jardins medievais, cujas plantas serviam para curar o corpo e o espírito, e até aos jardins Zen, os mais espirituais, sempre o jardim teve uma essência divina. É um lugar sagrado nas diferentes culturas. O Paridaiza persa, o jardim paraíso que encontramos também na Andaluzia. O jardim do Éden, descrito na Bíblia: «Um rio saía do Éden para irrigar o jardim, dali dividindo-se para formar quatro braços» (Gen. 8-10). A alegoria do jardim da alma, o Cântico dos Cânticos, é igualmente uma maravilhosa ode à natureza divina.
O jardim permite despertar uma consciência das energias subtis. O jardim pode ancorar-nos, é uma necessidade humana. Nós, memórias de poeiras, somos infinitamente pequenos em termos do Universo. Nada existe senão por um momento. Nada se aguenta senão por um fio... vida/morte: gosto desta simbólica no jardim. A renovação é constante. Há algo de muito frágil: o que vemos a certa hora pode já lá não estar uma hora depois. O fio parte-se... Pequeno biótipo que procuramos preservar no jardim de TenChi, de uma maneira natural e, no entanto, pensada. O jardim tem uma ponta selvagem, louca, relaxante. O que, de resto, tem a ver connosco!
É um lugar de meditação e, evidentemente, de inspiração. Alegrias e tristezas fazem parte da nossa vida: é preciso passearmo-nos pelo jardim, é a melhor das terapias! Tentai! A natureza lava a tristeza e exalta a felicidade. Por acréscimo, dá também aos outros alegria. É verdadeiramente um elemento de equilíbrio de que todos precisamos. Os jovens alunos devem descobri-lo com um outro olhar do que aquele que, apressado pela prática da sua disciplina, por ele passa sem o ver. Dai-vos ao cuidado de o observar, escutai o vosso coração.
Acreditai que este pequeno pedaço de terra exige trabalho. Respeitai-o também. A natureza alimenta a vossa arte e a nossa arte alimenta a natureza, num vaivém, como uma doce respiração cheia de poesia. Vinde, por vezes, ajudar-nos à sua manutenção. A porta está aberta. O jardim é uma verdadeira lição de «lâcher prise»: está em movimento e nem sempre é possível dominá-lo. O jardim permite recuperar a confiança em si. É a relação primitiva que fascina: o vegetal aproxima-se do humano nos seus ciclos e na sua estrutura.
A natureza é um belo instrumento para melhor nos conhecermos. Ensina-nos a tolerância, porque ensina a aceitar a diferença. Certas plantas não podem coabitar, mas todas existem e felizmente. A natureza ensina-nos também a organização.
O jardim de TenChi transmite-nos a paz. As pedras têm a sua importância: elas correspondem a uma cosmologia bem conhecida do espírito Zen. Se eu me fundir na natureza, estou em paz com a morte... Faço parte do ciclo.
Este jardim, que criámos com os antigos da nossa Escola, desposou os contornos das nossas vidas. Percorrei-o sós de tempos a tempos! Regressai a vós próprios... Passai do jardim exterior ao jardim interior. É o que a natureza deste jardim vos propõe. É um magnífico instrumento de felicidade e de transformação. É o lugar onde o homem procura o seu lugar na natureza. É aqui que se encarna e se confronta enquanto jardineiro. O local é também um lugar de reencontro: consigo, com o outro e para lá de si mesmo.
É o lugar de todos os possíveis. Reentrando em relação com a terra e conhecendo-a, podemos perder muitos medos. Meter as mãos na terra é aceitar morrer. Tudo se pode abrir! É a terra e o húmus que no-lo ensinam. Para compreender o vegetal, é preciso compreender a terra. A terra alimenta o homem. O céu faz crescê-lo. É preciso que o homem tenha consciência disso. Ao utilizar adubos químicos, não alimentamos a terra. É uma terrível mentira. Antes a roubamos. A terra fecha-se.
Lembremos ainda que o jardim na sua dimensão sagrada é frequentemente uma aventura apaixonante. É preciso combinar estrutura e liberdade. A simbólica é importante. Os projectos devem estar em sintonia com uma alegria interior. Não é apenas uma questão de estética: isto reflecte-se na felicidade que cintila nos olhos de cada um. É o grande alimento do jardim de TenChi...
Georges Stobbaerts
Julho 2007
Minha Experiência
Em julho de 2007 visitei pela primeira vez o Hombu Dojo da escola TenChi International, fundada pelo Mestre Georges Stobbaerts. Fiquei encantado, não apenas por sua beleza, mas pela profundidade do trabalho realizado por ele naquela quinta situada em Sintra, Portugal. Um lugar mais que especial, algo realmente inexplicável, o qual apenas as pessoas que fizeram parte de sua história entendem o quão é impossível transmitir ou expressar em palavras a intensidade de tudo aquilo que era vivenciado por lá.
Estão guardadas em minhas memórias lembranças de momentos que marcaram profundamente minha vida. Desde os estágios nas diversas artes/disciplinas do Budo às inúmeras conversas com o Mestre em sua sala logo ao lado do Dojo principal. Ainda consigo lembrar claramente do cheiro de incenso daquele lugar, repleto de livros e objetos inusitados, onde posso dizer que tive minhas verdadeiras aulas sobre a vida.
Marcante também toda a luta do Mestre para manter sua escola viva e o Dojo impecável. Delegações de diversos países representadas por uma ou por dezenas de pessoas somavam esforços a quem o frequentava cotidianamente, não apenas para preparar o local para os inesquecíveis estágios de verão, mas para deixar o Dojo preparado para mais um ano de existência.
O trabalho era duro, mas quando dividido, o sorriso e a presença de cada pessoa enchia o coração de alegria e não tinha como economizar esforços para tudo aquilo continuar existindo.
Um lugar onde as indiferenças, que naturalmente eram inúmeras devido a imensa diversidade cultural que circulava por lá, eram tratada com maestria dentro e fora do tatame.
Saudades.
"Deveria haver um lugar onde todo o ser humano pudesse viver livremente como um cidadão do mundo. Um lugar onde o despertar do homem e o seu progresso interior se fizessem na harmonia entre o corpo e o espírito. Um lugar onde as artes se encontrassem a fim de acordar as consciências. Um lugar consagrado a criar relações de fraternidade entre os homens e a fazer prevalecer a paz no mundo." Georges Stobbaerts (1940 ~ 2014)
Tive o prazer de frequentar o Dojo TenChi todos os anos, de 2007 à 2014. As fotos mostradas aqui foram tiradas durante estas estadias em em alguns momentos é possível acompanhar da evolução do jardim à mudanças estruturais.
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